Fotos e saudades

Um dia, resolvi que não queria mais te ver. Um dia, te disse que o custo estava infinitamente maior que o benefício.

Conscientemente, deixei de ir a lugares em que sabia que ia te encontrar. Deixei de perguntar por você para os amigos, parei de escutar as músicas que me lembravam de você. Deixei até de falar com pessoas que não entenderam a minha decisão e insistiam em me manter atualizada sobre você.

Simplesmente abri minhas mãos e te deixei escapar pelos vãos dos meus dedos.

Doeu muito. Em alguns dias, eu tinha a sensação de que me rasgava em duas. Em outros, o vazio no meu peito era tão grande, mas tão grande, que eu achava que não ia mais respirar.

Um dia, descobri que a saudade não some, mas ela vai ficando menos dolorida à medida em que o tempo passa. As experiências ruins vão se apagando. E tudo o que ficou dentro de mim foi seu sorriso lindo, sua gargalhada incrível e o jeitinho de me chamar "Tatá" baixinho, só seu.

De vez em quando, o acaso me visita. Uma música escapa no rádio. Alguém dá uma notícia sem querer. Acontece algo importante e eu ainda tenho vontade de te procurar, pra te contar, pra te pedir colo, pra comemorar com você.

Vejo uma foto sua na Internet. Como ontem.

Foi uma sensação engraçada. Não foi um soco no estômago, como antes. Mas tenho que confessar, me bateu uma melancolia danada. Porque, olhando bem, seu sorriso não está mais tão lindo assim - e, aposto que se pudesse te ouvir, não acharia mais sua gargalhada tão sensacional nem viraria manteiga quando você chamasse meu nome.

Pensando bem, já não tenho mais certeza de que as coisas que ficaram são realmente lembranças suas ou meras impressões. Porque no final das contas, inventamos um pouco o objeto amado. Pintamos aquele ser com as nossas cores, enfeitamos do nosso jeito - tudo para nos apropriarmos dele.

Só que eu nunca me apropriei realmente de você. Você nunca foi, nem nunca quis ser meu. Sabe o que mais? Deu melancolia, um apertozinho no peito, mas finalmente minha ficha caiu. Hoje, eu tenho certeza, sem um pingo de despeito: tô muito, mas muito melhor sem você.

Acho que é isso que as pessoas chamam de desapego.


Comentários

  1. É muito poder se soltar e deixar fluir. A vida pede isso :) Vc escreve sempre bem!! Bjsss

    ResponderExcluir
  2. Aaaaaaah, amei! Ainda mais por saber da história e ter a CERTEZA absoluta de que você merece MUITO, MUITO mais que aquilo... Feliz por você, querida!!! <3

    bjão

    ResponderExcluir

Postar um comentário