O prazer das coisas simples

A cada dia, descubro o prazer das coisas simples.

Me encontrei no trabalho voluntário, um compromisso sério e que não troco, a não ser por emergências. Nada se compara ao prazer de ver uma pessoa convalescente em um hospital, sorrindo lá de sua cama para nós, da turma, no corredor. Junto aos meus colegas de coral, cantamos músicas que todos conhecem, mas que ainda assim provocam lágrimas de emoção nos pacientes e em seus acompanhantes.

Eu ali, que nem boba, sem saber se sorrio, se aceno, se desvio o olhar ou desencano e choro mesmo. "Gratificante" é uma palavra que descreve mal e vagamente o sentimento de amplitude que me preenche a cada apresentação que fazemos. Sem contar as pessoas magníficas que conheci lá e que acrescentam demais - sabedoria, tolerância, amizade, companheirismo - à minha vida.

*

É um prazer incomparável me descobrir capaz de enfrentar uma inimiga que me derrotou a vida toda: a balança. Tenho tido uma série de pequenas conquistas, que parecem ridículas para quem nunca passou por isso, mas que pra mim são verdadeiras vitórias: agora cruzo a perna igual "moça", consigo usar cinto, e, pasmem, vou comprar uma bota de cano alto. Uma bota de cano alto! Um anel caiu do dedo porque está largo demais, as pulseiras e o relógio estão sobrando...

Ainda falta bastante, é claro. Mas cada semana representa uma vontade maior, um gás a mais pra não desistir. E fazer escolhas conscientes e sem sofrimento: não dói mais trocar "isso" por "aquilo".

Tem mais um inimigo ainda na lista pra ser combatido: o espelho. E a prima-irmã dele: a autoestima. Desses, me aproximo aos poucos. Espio pelo canto dos olhos, dou um meio sorriso e faço um joinha, pra sair correndo rapidinho, antes que fiquemos íntimos demais. Uma hora nos afinaremos, espero.

*

Podia listar uma infinidade de pequenas simplicidades, como um dia de sol e céu azul; a minha orquídea, que não para de florescer e encher meus olhos; sair com minhas amigas de tantos anos, pra um simples bate papo, e ver nos olhos delas a certeza de que estaremos juntas, nos apoiando sempre.

Um bom dia, sem muitas dores, dos meus pais (e preciso registrar a felicidade que sinto quando os ouço conversando e rindo, depois de tantos anos juntos);  a alegria da minha irmã, por ter encontrado um novo caminho na vida (com coragem de segui-lo); dirigir ouvindo música boa e alta - daquelas de dar vontade de dançar dentro do carro.

E, sim, eu danço. Tô nem aí se o cara do carro do lado vai me achar maluca.

*

Mas queria terminar esse texto falando de uma descoberta que, além de me dar uma sensação incrível de vitória, ainda trouxe pessoas maravilhosas pra minha vida: estudar música. Assim, porque eu quero, não por pressão profissional ou porque vai ser "útil". Estudo porque sempre sonhei em aprender a entender aquelas partituras (que para mim pareciam alemão); porque sempre gostei de cantar, mas daquele jeito, né, sozinha e desafinando, quando tomava banho.

Comecei bem despretensiosa, só porque ficava rouca de tanto falar em minhas palestras. 'Não vou fazer sessões de fonoaudiologia', pensei. Fui parar na escola de música pra fazer canto.

Cada aula é um desafio. No início, eram vários desconfortos: a timidez inicial com o professor (afinal de contas, é você e um homem desconhecido, sozinhos numa sala), exercícios meio loucos, a estranheza em ouvir minha própria voz... e, aos poucos, fui pegando o jeito. Graças à paciência infinita e à enorme dedicação do meu professor, de quem sou fã, já consigo ficar feliz em ouvir minhas gravações.

Pois é. Eu g-r-a-v-o minhas músicas. Em um microfone profissional, com fones de ouvido, a la We are the World, saca? Os sábados (e as quintas, quando faço aulas em grupo e também tenho uma professora querida) são os dias da semana mais bacanas, mais legais. Porque eu faço algo por mim, só por mim, por absoluto e simples prazer. Porque a cada agudo que eu consigo alcançar, fico mais confiante. Porque adoro me divertir horrores na aula. Porque cada pessoa que conheci na escola já se tornou um amigo importante pra mim.

Porque essas atividades vão me ajudar a enfrentar aquela danada, lembra? A tal da autoestima...

Por mim. Só por mim. E é tão legal.

*

Ah, esse prazer imenso - e absoluto - das coisas simples.

Comentários

  1. As coisas simples nos dão sempre muito prazer, justamente por ser simples. Amo VOCÊ (assim simplesmente!!!)
    Mamãe

    ResponderExcluir
  2. Carmen Lins de Carvalho17 de junho de 2013 às 23:53

    Parabéns, menina! Você nos ensinou o prazer que nós dá as coisas simples da vida.

    ResponderExcluir

Postar um comentário