Vamos ser só amigos?

"A gente podia ser só amigos. Que você acha?"

Ela perguntou assim, sem preparar, com um sorriso nos lábios. A paulada no peito foi tão forte que ele ficou surdo e o tempo congelou.

Naqueles segundos em silêncio, ele pensou em tudo pelo que passaram nos últimos meses. Os passeios, as conversas, os segredos, tantos beijos e transas. Todos os momentos que eles compartilharam vieram à sua mente, e como aquela menina foi ganhando espaço em seu coração...

A vontade era pegá-la pelos ombros e sacudi-la. Só pra ver se as ideias entravam no lugar.

Queria gritar. "Será que você não percebe o jeito que eu te olho? Você acha que quem é só amigo te olha assim?"

Quis chorar. "Amigos por acaso transam como a gente transou? Quem vai me fazer esquecer seu gosto? E seu cheiro?"

Veio na ponta da língua dizer "Eu não quero ser ser seu amigo. Eu quero ser seu namorado, seu melhor amigo, seu amante. Quero acordar olhando pra você. Quero ouvir sua risada, seus gemidos, te beijar e te abraçar. Se não puder ter isso, não quero ter nada."

Mas "nada" era grande demais. Pesado demais. Vazio demais. Não dava.

Naqueles poucos segundos, ele percebeu que estava viciado nela. E que ser amigo era difícil, mas infinitamente menos pior que ser nada.

"Então, querido... vamos ser só amigos? De boa?"

Botou seu melhor sorriso no rosto, fingiu que tudo estava certo e, com uma leveza que dilacerava seu peito, concordou:

"Claro, linda, só amigos!"