Amor é tudo que nós dissemos que não era

ELE
Cara, aquele dia até que foi normal. Comum, até. Aliás, foi um dia bem feio. Tava chovendo - ou nublado, eu não me lembro bem.
Mas foi o dia em que tudo mudou. Foi o dia em que eu a conheci.
Eu não sei detalhes da roupa que ela vestia; mas me recordo com exatidão daqueles olhos castanhos de cílios compridos e uma ameaça de sorriso no canto dos lábios.
Lembro também como ela, apesar de obviamente mais velha que eu, parecia fechada e quase distante,  como se houvesse um muro entre nós.

ELA
Bem, sendo muito sincera? Durante algum tempo convivi com ele sem perceber que ele poderia ser algo além de um amigo.
Eu me habituei a deixar as pessoas chegarem, mas não entrarem em meu espaço. Acho que assim dói menos, porque uma hora ou outra eu sempre me decepciono.
E, puxa, eu já tinha aceitado a ideia de que ficaria sozinha. Achava que essa coisa de 'toda panela tem sua tampa' é papinho pra alimentar bobagens românticas e vender livros de autoajuda.
Além do mais, ele é mais novo. E eu descobri que sim, tenho preconceitos.

ELE
Gente, eu me encantei. Mas não foi assim, de estalo, de uma hora pra outra não.
Ela foi ganhando espaço na minha cabeça. Adorava me encontrar com ela e ouvir suas histórias, o jeito que ela tem de falar com as mãos, com os olhos, tão profundamente que me fazia - e ainda faz - querer contar tudo de mim pra ela.
Me apaixonei pelo seu jeito não convencional, como se não desse bola pras opiniões do mundo. Eu, leonino e egocêntrico, ainda corto o cabelo e faço a barba pensando na zoação da galera.

ELA
Claro que eu percebi o quanto ele é inseguro. Só o jeito que ele tem de sorrir, com os olhos meio de soslaio, já denuncia o quanto ele se angustia com opiniões alheias. Eu também, óbvio, mas se tem uma coisa que crescer me ensinou é que ninguém te ajuda quando você tá mal. Então ninguém tem o direito de interferir nas suas escolhas.
Acho que quando eu disse isso pra ele pela primeira vez, eu vi o olhar dele pra mim mudar. De repente, não era mais um menino e uma mulher, mas um homem, com todos desejos à mostra, ali explícitos em seus olhos.
Eu me assustei. Quem não se assustaria? Tentei durante um tempo negar tudo aquilo e dizer a mim mesma que era só afeição. Amizade. Sei-lá-o-nome do sentimento. Tudo, menos amor.

ELE
Pô, eu também me assustei. Ela me assusta, sabe. Como o mar, num dia de chuva forte: a gente se encanta, mas tem medo de se aproximar. Até hoje eu me sinto mais menino do que realmente sou perto dela.
Mas não teve jeito de resistir a tudo que aconteceu. Aqueles olhos; o jeito que ela tem de dizer "tchau, querido" bem perto dos meus ouvidos, quando a gente se despede; o toque carinhoso de sua mão no meu rosto...
Eu sou romântico demais, desligado demais, chego mesmo a ser bobo. E, quando vi, estava ali, entregue.

ELA
Daí que outro dia ele comentou um post meu no Facebook e uma amiga, quando viu a foto, mandou um "ah, que fofo, vontade de levar ele pra casa e dar um copo de Nescau!". Eu ri, porque foi engraçado mesmo, e depois fiquei pensando que eu, já naturalmente maternal, confundo tanto os sentimentos...
E a culpa. Meu Deus, a culpa. Durante muito tempo, tudo o que eu consegui foi lidar com a culpa de gostar de alguém mais novo. Só conseguia pensar nas piadinhas do tipo "deu pra trocar fralda agora?".
À medida em que o tempo passava, ele foi ganhando cada vez mais meus pensamentos. E a coisa do preconceito, da idade começou a parecer cada vez menor.
Fui cedendo espaço pra ele. Fui deixando que ele chegasse. Finalmente, resolvi tentar: abri o coração pra ele.

...

Parei aqui porque tentei diversas vezes terminar o texto e não consegui.

Você, leitor, deve estar esperando um 'final feliz', de novela, mas esse conto não vai ter um. Ou, pelo menos, não um convencional, em que mocinho e mocinha ficam juntos e apaixonados.

Muita coisa que está aqui é verídica, e misturada nos dois personagens. Outras passagens, no entanto, são somente fruto de um enorme desejo de que as coisas realmente acontecessem como está escrito. Mas ele, o mocinho, tomou outro rumo, e eu...

Bem, eu estou aqui ainda. E cansada. De esperar por ele, de ser amiga, de ouvir as ~novidades~. De nada acontecer.

Gostaria muito de dizer que um dia vou atualizar esse conto e dar a ele o final que ele merece. O final que eu mereço. Sinceramente? Acho que não vai rolar.

Minhas desculpas a você, amigo, que chegou até aqui e se frustrou. Nem sempre dá pra fazer um texto bacana, né?

E pra você, meu menino lindo e querido, só isso:
http://www.youtube.com/watch?v=AQajNLwJPyc

Comentários

  1. Vc é linda e leitinho quente com nescau é sempre bom. Nega, preconceitos sofremos com tantas coisas, o q realmente importa é se somos felizes e estamos com quem nos ama. <3

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