My eyes are wide shut

Fecho os olhos, deitada e escondida no fundo da cama. A porta do quarto está fechada, a janela também, mas nem assim consigo fugir da sua voz, linda e suave, que ainda ecoa nos meus ouvidos.

Os olhos ardem. Não dá mais para chorar e, mesmo com tantas lágrimas, a angústia persiste em transbordar dentro de mim: tenho um oco de emoções entalado na garganta.

Quero gritar: estou muda, calada, sufocada. Me afogo em mim mesma, perco a voz, e a sensação é de que não tenho alguém pra me estender a mão e me socorrer.

Outro dia, li em algum lugar sobre a diferença entre "persistir" e "perder tempo". Meu cérebro sabe. Meu corpo sente. Meus olhos viram a menina, sentada ali, tão próxima.

Mas como é que eu explico isso pro meu coração, querido? Ele é só sentimento. E, como uma criança emburrada, bate o pé e se recusa a acreditar nos meus olhos.

Meus olhos... Aqueles, de que todos falam, os bonitos, os exóticos, estão cansados. Já não choram. Você não me viu chorar no escuro, baby, mas me olhou profundamente infinitas vezes, e preferiu - escolheu - não ver o sentimento que estava ali.

Quando tudo que eu desejava era sorrir, só consegui me entristecer, mais uma vez. De novo. De novo. De novo. Eu já deveria estar acostumada.

A gente não se familiariza com isso, né, amor. Eu achei que agora ia dar certo. Não deu. Não-vai-dar. Escreve aí, moça. Você, que confia tanto na palavra escrita... Ele não quer. Ele tá feliz. Simples.

Por isso, que nem criança boba, eu fugi. Pura covardia: não quero, e não vou nunca chorar na sua frente. Nunca. Também não estou mais com vontade de pendurar um sorriso no rosto e fingir que tá tudo bem.

Não tá.

Fecho os olhos, de novo cheios de lágrimas. De onde saem tantas, meu Deus? Será possível que elas não acabam?

Me escondo embaixo das cobertas, no fundo da cama, atrás da porta fechada, esperando a dor passar.

Com os olhos bem fechados: quem sabe, assim, deixo de ouvir sua voz, cantando baixinho na minha memória.