Hearts will always be broken

Esta é a história de dois corações.

Não se engane, leitor romântico: esse conto não tem final feliz. Não quero que você alimente esperanças vãs e seja mais um coração partido ao final do texto.

Esta é a história de uma moça romântica, que queria mais que tudo estar com alguém. É a história de um moço doce e cheio de convicções. Dois corações que foram machucados e que vão se machucar.

A moça sempre foi romântica. Daquelas que suspirava em filme de amor, que chorava em música bonita, que adorava uma boa história de final feliz. Alguém que cuidava dos amigos e os incentivava a serem felizes, e a buscarem alguém, da maneira que fosse.

Já o moço, apesar da doçura - era mais um entre tantos homens de sua geração criados por uma mulher -, tinha, como todo exemplar do sexo masculino, uma postura "não tô nem aí", "não ligo pra nada", "não me abalo". Nada mais mentiroso. Nada mais longe da verdade. Ah, como as pessoas o feriam.

A moça tinha se apaixonado algumas vezes em sua vida. Sim, ela sabia que não era o protótipo de beleza. Mas era uma pessoa que (tentava) ser boa a maior parte das vezes, era doce e gentil. Ainda assim, a cada amor ela sofria. Sempre ouvia que era bacana, inteligente, divertida, a melhor amiga que alguém poderia ter... mas quase nunca que era uma mulher interessante.

A cada vez, seu coração era invariavelmente partido. A cada vez, ela se prometia não mais ceder ao encantamento, a um sorriso aberto, a uma voz bonita, a um abraço carinhoso. Mas não adiantava: seu coração era grande demais e pedia para estar com alguém. Só que, a cada decepção, ele se encolhia um tantinho.

Um dia, ela percebeu que seu coração estava pequenininho. Tão pequeno que cabia na palma de sua mão. Medrosa de que pudesse ser magoada novamente e ter seu coração destruído de vez, ela o escondeu de tudo e todos.

O moço começou a acumular decepções ainda pequeno, antes de sequer pensar em se apaixonar. Foi decepcionado por aquele que deveria ser seu herói, seu modelo, sua referência. E todas suas relações foram afetadas por aquela demonstração de desamor.

Ele, no fundo, tinha medo de ser igual ao "cara". De estabelecer uma relação e virar alguém desapegado, desconectado. E dizia para todos que não se apegava às coisas, que não ligava para os outros.

Não era bem assim. O fato é que ele se protegia, se afastava dos outros simplesmente para não sofrer, e se fechava. Era doce, sensível e tinha receio de não aguentar uma outra ruptura tão brusca como a que passara.

Congelou seu coração. E, se era sensível para tantas coisas, se defendia os bichos, as plantas, o ar da cidade, se podia criar coisas lindas, era incapaz de se abrir. O gelo em torno de seu coração nada mais era que um escudo para se proteger. Ele só ficava mais espesso a cada relacionamento seu que não funcionava.

Esses corações, um dia, se encontraram. E ficaram amigos - assim, bem despretensiosamente. Um não queria nada do outro, além de carinho e compreensão.

Um dia, ela olhou para ele de um jeito diferente. Viu ali o homem, para além do amigo querido. Viu ali o coração pulsando por baixo do gelo. E se encantou por sua doçura, por seus olhos, por suas mãos. Ele, do seu lado, também se encantou, à sua maneira. Mais contido, menos transparente do que ela, ainda assim se mostrava e se abria para a moça como não fazia para mais ninguém.

O coração dele aqueceu um pouco e a carapaça de gelo afinou. O dela aumentou, cheio de carinho por ele. As coisas pareciam bem, e encaminhadas. Não se sabe o porquê ou o porém: conspiração astral, azar, influência do destino?, de uma hora para outra, tudo desandou.

De seu lado, ela estava a cada dia mais envolvida, com medo de se abrir e perder o amigo tão querido. Ele, por sua vez, preferiu deixar as coisas como estavam a abrir um espaço para ela em seu coração. Optou pela saída mais segura: a moça chatinha, levemente irritante, mas bonitinha. E, em uma tacada certeira, contou à amiga que tinha procurado pela outra. Assim, como se o sentimento dela não fosse importante.

Que nada - tudo foi pensado para afastá-la. E conseguiu: o coração dela voltou a encolher, ficar pequenininho. O dele voltou a congelar, sem dar chances à bonita e chatinha. Ainda amigos, ainda encantados, preferiram manter tudo mal parado, mal resolvido, em nome da autoproteção.

Afinal de contas, corações sempre vão ser partidos.

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