Um amor de Carnaval

Ele, solteiro pela primeira vez em anos, louco para pegar todas no meio da brincadeira.
Ela, que nem curtia Carnaval, foi só pra não ficar sozinha em casa.

Ele era roqueiro. E nem escutou as músicas que tocavam no bloco.
Ela morreu de saudade de algo que não viveu quando começou a seleção de marchinhas.

Ele ficou meio irritado quando começou a garoar. Era assim, meio azedo, mesmo.
Ela adorou a chegada da chuva. Um refresco - que delícia!

Na correria que se seguiu quando a chuva desabou, os dois se trombaram.
Ele achou graça da falta de coordenação dela e sorriu.
Ela achou o sorriso dele lindo.

Entraram correndo debaixo de um toldo.
Ela havia se perdido da amiga. Ele estava sozinho mesmo.

A conversa começou por causa da chuva. "Tá gelada, né?", disse ele.
"Poxa, não acho. Adoro tomar chuva", disse ela.

Ficaram ali, batendo papo, e descobrindo que não combinavam em nada.
Ela era natureba. Ele fumava.
Ela adorava ler. Ele dormia na primeira página em que tentava se concentrar.
Ele tocava nas horas de lazer. Ela escrevia.
Ele gostava de futebol e ela de filmes.

No meio daquele desencontro, ela se perdeu nos cílios compridos dele.
Ele se pôs a imaginar se os cachos dela seriam mesmo tão macios quanto aparentavam ser.

Quando se beijaram, deixaram de ouvir as marchinhas de Carnaval. Não sentiram mais o desconforto da chuva, nem o frio de seus corpos molhados.

Não se lembravam mais da conversa, nem de que não se combinavam em nada.
Não pensaram no dia seguinte, nem se estariam juntos depois daquele beijo.

Separaram-se com o gosto do outro nos lábios, os telefones nas memórias dos celulares, os olhos sorrindo.

"Gostei dela. Será que ela vai me ligar amanhã?", pensou ele.
"Cara bacana. Tomara que ele me ligue.", suspirou ela.

Acenaram-se a distância e seguiram seus caminhos, torcendo pra que os celulares tocassem no dia seguinte.

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