A moça caminha por um corredor e se depara com um espelho.
Ali, refletida, não se reconhece.
Busca seus olhos e, neles, não encontra a compaixão e o carinho que distribui aos outros.
Pisca, e o reflexo muda. Ante aquele olhar duro, seu coração se apequena, e subitamente ela se transforma numa criança frágil, indefesa e insegura.
Ela, só ela, consegue ver em seu rosto as cicatrizes que ninguém mais vê. Como um juiz de concurso de beleza, cada mínima imperfeição é notada e computada. E será usada contra si mesma em algum momento.
Angustiada, ela dá as costas ao objeto. É só um espelho, mentaliza, de olhos fechados, não pode te machucar. Tem razão - quem se machuca é ela própria.
Inspira fundo e, sem dedicar mais tempo ao espelho, contorna-o. Além dele, no corredor, ela vê uma janela. Intrigada, debruça-se, procurando descobrir para onde ela se abre.
Ali, diante de seus olhos, ela vê desfilar as oportunidades que desperdiçou porque não se sentiu capaz de agarrar; pessoas que deixaram seu convívio simplesmente por não aguentarem sua insegurança; e, com uma dor aguda, vê passar os amores que deixou ir porque não se considerava a mulher certa, porque não se achava bonita, porque "ah, mas o que um cara como ele pode querer comigo?".
No final da fila, um rapaz de lindas mãos e profundos olhos castanhos caminha. Sozinho.
Olha para ela de longe, acena e sorri para a moça daquele jeito que só ele sabe fazer, que a desarma, enternece e a faz esquecer de seus temores.
Mas a fila não para. De súbito, ela já olha para suas costas. "Meu Deus, como dói vê-lo se ir, sem ter certeza de que ele entendeu meus sentimentos. Sem saber se pra ele também é assim".
Como é difícil.
Com um peso no peito, como em todas as vezes em que ele se vai, ela fecha a janela. Volta ao espelho e, ali, tenta se ver como ele a vê - e, claro, não gosta do que enxerga.
Abaixa os olhos. Porque é melhor, e mais fácil, não ver o reflexo do que tanto a angustia. Mais simples.
Doerá menos se ela aceitar logo que o moço talvez a veja como amiga? Não. Claro que não. Será que ela deveria arriscar a amizade e se abrir para ele? Mas como? Milhões de dúvidas, milhões de perguntas, tantas que a paralisam e sufocam.
Cobre o espelho. Talvez, não se enxergando, seja possível voltar a respirar. Talvez, respirando, possa esquecer de que vive sobre o fio de uma faca - uma arma que ela amola todo santo dia.
Ali, refletida, não se reconhece.
Busca seus olhos e, neles, não encontra a compaixão e o carinho que distribui aos outros.
Pisca, e o reflexo muda. Ante aquele olhar duro, seu coração se apequena, e subitamente ela se transforma numa criança frágil, indefesa e insegura.
Ela, só ela, consegue ver em seu rosto as cicatrizes que ninguém mais vê. Como um juiz de concurso de beleza, cada mínima imperfeição é notada e computada. E será usada contra si mesma em algum momento.
Angustiada, ela dá as costas ao objeto. É só um espelho, mentaliza, de olhos fechados, não pode te machucar. Tem razão - quem se machuca é ela própria.
Inspira fundo e, sem dedicar mais tempo ao espelho, contorna-o. Além dele, no corredor, ela vê uma janela. Intrigada, debruça-se, procurando descobrir para onde ela se abre.
Ali, diante de seus olhos, ela vê desfilar as oportunidades que desperdiçou porque não se sentiu capaz de agarrar; pessoas que deixaram seu convívio simplesmente por não aguentarem sua insegurança; e, com uma dor aguda, vê passar os amores que deixou ir porque não se considerava a mulher certa, porque não se achava bonita, porque "ah, mas o que um cara como ele pode querer comigo?".
No final da fila, um rapaz de lindas mãos e profundos olhos castanhos caminha. Sozinho.
Olha para ela de longe, acena e sorri para a moça daquele jeito que só ele sabe fazer, que a desarma, enternece e a faz esquecer de seus temores.
Mas a fila não para. De súbito, ela já olha para suas costas. "Meu Deus, como dói vê-lo se ir, sem ter certeza de que ele entendeu meus sentimentos. Sem saber se pra ele também é assim".
Como é difícil.
Com um peso no peito, como em todas as vezes em que ele se vai, ela fecha a janela. Volta ao espelho e, ali, tenta se ver como ele a vê - e, claro, não gosta do que enxerga.
Abaixa os olhos. Porque é melhor, e mais fácil, não ver o reflexo do que tanto a angustia. Mais simples.
Doerá menos se ela aceitar logo que o moço talvez a veja como amiga? Não. Claro que não. Será que ela deveria arriscar a amizade e se abrir para ele? Mas como? Milhões de dúvidas, milhões de perguntas, tantas que a paralisam e sufocam.
Cobre o espelho. Talvez, não se enxergando, seja possível voltar a respirar. Talvez, respirando, possa esquecer de que vive sobre o fio de uma faca - uma arma que ela amola todo santo dia.
forte né?
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