A menina e as estrelas

Era uma vez uma menina que tinha uma estrela.

A estrelinha se apaixonou por ela no dia em que a menina nasceu. Era uma criança tão linda, tão tranquila, que não teve jeito. Ela ficou doidinha assim que viu a bebê, dormindo no berçário do hospital. A partir daí, ela só brilhava por causa da menina. A cada noite, a estrela se enfeitava só para ela, e mandava seu brilho para a garota que, sem saber, recebia um pouquinho daquele encanto.

A menina foi crescendo e, por onde passava, deixava o brilho de sua estrela. Seu sorriso encantava tias, avós, primos, amiguinhos. Tinha um olhar franco que transmitia a seus pais a segurança de que ela um dia seria uma mulher amada e feliz.

A estrela, por sua vez, não pedia nada. Só queria ficar de olho naquela criança tão querida e mandar vibrações positivas para a sua garota. Era um orgulho imenso ter, a cada dia, o vislumbre da adulta em que ela se tornaria.

Na adolescência, a lista dos admiradores não parava de crescer. Ninguém entendia como é que essa menina tinha "de tudo". Não percebiam que ela era completamente feliz - sua alegria alimentava a estrela, que lhe devolvia brilho e iluminava-lhe bons caminhos.

Bons caminhos, aliás, que convergiram para seu amor, com quem iniciou sua vida adulta e construiu um lar amoroso e acolhedor. Tornou-se mãe. E a estrela, generosa, passou a dividir seu brilho entre mãe e filha.

A maternidade deixou a menina mais serena, mais focada, como se a presença daquela pequena criança em seus braços fosse um atestado constante do quanto sua vida era abençoada. A estrela, por seu lado, não imaginava ser possível ter tanto amor. Mas tinha. E o enviava às duas, mãe e filha, que resplandeciam, transbordavam de brilho.

Olhando para o céu, a menina descobriu a estrela. Viu que todo aquele brilho só era enxergado por ela, que o recebia cotidianamente, e o espalhava por onde passava. E, acima de tudo, entendeu que aquele era um privilégio - um segredo que não deveria contar para qualquer um, pois corria o risco de ser mal interpretada.

***

Um dia, a menina da estrela conheceu uma moça que tinha passado por coisas ruins e, de tristeza, escondeu sua alegria dentro de uma concha que havia encontrado numa praia. A concha era rara e muito pequena, do tamanho exato do que restara da alegria da moça, que a trazia pendurada ao pescoço, numa corrente.

A moça simpatizou com a menina das estrelas - que, desde o primeiro encontro, despejou seu brilho sobre aquela alma entristecida, aonde pressentia uma necessidade desmesurada de carinho e amor.

Um dia, a menina das estrelas viu a concha. Mas a moça, desconfiada, não quis lhe mostrar o que guardava ali. Tinha medo de que sua alegria se esvaísse, caso abrisse a joia.

Encantada com a beleza do objeto, a cada encontro a menina elogiava o pingente para a amiga. E, num gesto de confiança, mostrou-lhe sua estrela, brilhando lá no céu.

"Querida, veja minha estrela. Ela é um segredo que guardo, porque nem todos são capazes de entender que o brilho dela só aumenta quanto mais for compartilhado.
Mas você tem uma alma delicada, sinto que posso lhe contar, e dividir um pouco disso com você."

Diante de tanta confiança, a moça tirou a corrente do pescoço e abriu a concha. Mostrou à amiga o que sobrou de sua alegria, tão pequenininha, descorada, agonizante, ali escondida no pingente.

Foi então que se deu a surpresa. Talvez tenha sido a luz da lua, ou então o ar fresco da noite de verão. Talvez tenha sido o brilho da estrela... ou então foi o carinho da menina. Ao ser libertada, e sentindo a confiança da moça na menina da estrela, a alegria voltou a pulsar e, imediatamente, começou a crescer.

A moça, então, entendeu que a alegria é como um pássaro raro. Precisa de liberdade e de estar cercada de amigos para florescer. Tal como a estrela, que precisava de sua menina para ser feliz, a moça precisava voltar a acreditar nas pessoas para não perder a alegria de vez.

E voltou.

***

Por isso, Carla, minha querida "menina da estrela", te agradeço infinitamente. Por todo o carinho e atenção que você me dispensa, por me ensinar tanta coisa boa e, principalmente, por compartilhar seu brilho comigo, muito, muito obrigada!

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