Uma carta de amor

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
__Álvaro de Campos (1935)

Já começo pedindo desculpas, porque sei que em alguns momentos vou soar ridícula, querido. Afinal de contas, isso aqui é um arremedo, uma tentativa de carta de amor.

Preciso contar um segredo pra você, coração: eu não sei jogar. Não sei. Ponto. Eu não sei me conter, eu não sei fazer tipo, charme, dizer uma coisa quando no fundo quero falar outra.

Eu sou isso que você vê por duas horas, há alguns meses. Eu me jogo, me preocupo com quem gosto, me dedico. Sou chata sim, e daí - quem não é? -, mas olho nos seus olhos com verdade, com carinho. Sou intensa. Tanto, tanto, que transbordo.

"Isso" sou eu.

Uma confissão (mas acho que este detalhe você já percebeu): eu detesto competir. Não gosto. Já saio perdendo, amor. Saber que tem alguém, saída não sei quando, sabe-se lá de onde, com uma "longa história", só me faz ter vontade de pisar no freio.

Uma e meia da manhã. Agora, agorinha, enquanto escrevo essa carta, você está lá em sua DR. Minha cabeça, disparada furiosamente, está tentando achar algo que faça você se voltar novamente para cá.

Mas não há. Não há, se você não tem vontade de mim.

Lembra, baby? Ainda outro dia, eu falei para você que não aguentava mais gostar sozinha. Eu ia te dizer que você precisava ouvir o Herbert e "deixar alguém te amar"... só que, no fundo, tô fazendo o mesmo. Me prendi a você, aos seus olhos lindos, às suas mãos gentis e frias, ao seu sorriso imenso.

Você ocupou todos os meus espaços, cantos, frestas e silêncios, e não consigo ver mais ninguém à minha volta.

Só vejo você. Só você, mas não vou entrar nessa. Nem por você. Não quero competição, não quero disputa, não quero dor, não quero DR.

Você é um homem, não um prêmio. Quero você, mais do que eu consigo expressar, sua companhia, sua risada, mas também suas dores e defeitos.

Quero estar com você, saber o gosto da sua boca, língua, pele. Tatear seus pelos. Conhecer seu corpo com as pontas dos meus dedos. Beijar, de levinho, suas pálpebras - e aquela pinta que você tem ao lado da boca, que me enlouquece.

Mas também quero cumplicidade e calmaria, quero tesão e sussurro, quero delicadezas e olhares. Quero que finalmente você consiga entender minha poesia, só de me olhar.

Quero a sua doçura em mim. Sem ter de pedir, mendigar, ou pior, disputar espaço com alguém que só quer falar, e falar, e falar.

Quero apoiar a cabeça no seu peito largo e ter a certeza de que você me aceita assim, como eu sou: totalmente ridícula. E me ama justamente por isso.

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