Dos meus quereres


Dedicado à Luciana, minha borboleta predileta, que me inspirou esse texto com uma lista de coisas das quais precisava, que envolvia, como só ela sabe escrever, uma viagem curta, um sorvete de graviola e dois sutiãs novos. :)

Meus quereres.

Quero um colo. Não quero fazer manha de criança, ou ranhetar e resmungar. Quero um lugar aonde possa descansar meu coração e minha alma, fechar os olhos e, enquanto estou ali, ter a certeza de ser contemplada com um sorriso nos lábios.

Quero cafuné em meu cabelos recém-lavados. Daqueles de levinho, que dão vontade de suspirar e um arrepio meio morno pela coluna. Quero um cheiro no meu cangote, a barba roçando no meu pescoço e uma mordida na ponta da orelha. Bem aonde deveria estar o brinco. Deveria, mas eu não coloquei, porque sabia que os lábios dele viriam passear ali.

Quero mãos descendo pela minha coluna, quero pés que se entrelacem nos meus e lhes deixem com vontade de não mais caminhar pelo chão, mas de criar asas e voar, como Hermes. Eu quero, finalmente, entender pra que serve decorar algo: o corpo de alguém, todos seus recantos e cheiros, pelos e fluidos.

Ah, meus quereres. Eles até que não são complicados, sabia?

Eu quero poesia. Ou a vontade dela. Ou então - melhor! - que ela seja declamada, gritada, sussurrada, em músicas, em risadas, em beijos. Em olho no olho e levezas. Em doçuras e em pés-de-moleque.

Eu quero alguém que guarde um ou dois segredos - ou cinco, não me interessam números -, mas que seja capaz de transpirar a verdade pelos poros. Desde que a resposta seja sim, seja quando eu perguntar "Tô bonita?", ou numa crise aguda de insegurança, "Tem certeza de que você me ama?".

"Sim!", "Sim, sim!"...

Nada muito complexo, vai.

Eu quero bobices no café-da-manhã de um sábado. Quero um macarrão alho e óleo no almoço e, bem, deixa o jantar pra lá, eu não queria comer mesmo... Ah, vamos ficar aqui, comendo a pipoca, junto com esse filme, que já tá bom demais. "Porque eu tô com você, amor".

Quero alguém que não veja a hora de me mostrar a última novidade que ouviu no rádio. O último filme que entrou em cartaz. Que sorria quando veja uma criança, porque sabe que eu gosto delas; que anseie por ler meu último texto no blog. Que me mande foto de margaridas, "suas flores preferidas, linda". Que se lembre de mim porque "Os ipês estão florindo, Tassinha".

Ah... alguém que me chame de Tassinha. Porque esse diminutivo nunca soou tão doce nos meus ouvidos. Justo eu, alta, atrapalhada, meio estabanada, com esta sensação permanente de despertencer, de incomodar, de não-ser, ser chamada de "-inha". "-inha", justo eu, onde já se viu?

Adoro Tatá. Amo ser a Tata da minha irmã. Mas quero ser a Tassinha de alguém pra sempre.

*

Desses meus quereres todos, só tem um que me parece verdadeiramente impossível: ainda quero que este homem seja você, baby. Ainda.

E isto, esse detalhe tão pequeno, nubla meus olhos, ainda faz chover durante meu dia de sol. Tudo se transforma em improbabilidades, meus quereres viram um rol de desquereres, um desfiar de não-querer. Porque, por mais que eu deseje com todas as minhas forças, sei que você não vai deixar seu "não" voltar atrás, mesmo que isso te rasgue em dois.

Mesmo não querendo, criei pra mim uma lista de sonhos impossíveis, como uma criança acreditando em contos de fadas. Brincamos de ser amigos, agora, você daí, com seu pragmatismo duro, e eu, daqui, me desfazendo no que não pode ser - e que nunca poderá.

Comentários

  1. "E isto, esse detalhe tão pequeno, nubla meus olhos, ainda faz chover durante meu dia de sol."
    Eu podia ao menos, estar perto da Cantareira.

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  2. Perfeito ! A imagem e sua frase traduzem um pouco de mim ...

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  3. Texto forte como café sem açúcar que, apesar de amargo, estimula seu dia ! Parabéns !

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  4. eu ainda acredito que o amor vem pra todo o mundo!

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  5. Eu não comentei no dia, não lembro bem porquê. Aí vim gostar do texto novo e me deu vontade de espreitar outra vez... e me lembrei de te contar que aqui em Portugal usam muitos diminutivos, acho fofo.

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