Disritimia

Para Babi & Marcos, com amor. 

"Eu quero me esconder debaixo
Dessa sua saia prá fugir do mundo
Pretendo também me embrenhar
No emaranhado desses seus cabelos"

Ela reconhecia a música em seus primeiros acordes. Amava-a tanto, tanto, que os primeiros versos lhe traziam uma felicidade amarga, um salto no estômago, um susto agridoce em seu coração.

A voz sorridente de Martinho lhe provocava uma sucessão de lembranças. Ela se lembrava da primeira vez que eles dançaram. E de tantas outras.

Tantas vezes em que, juntos, na penumbra, rodaram e se sentiram e se acariciaram. E, de olhos fechados, de rostos colados, adivinharam a expressão de felicidade um do outro, simplesmente por estarem ali, enlaçados.

Invariavelmente, o pedido para a cura do porre do "teu nego" lhe fazia pensar no hoje. Em pequenas vitórias, que aos dois pareciam conquistas gigantescas. Nas coisas que faziam juntos e que, talvez, não fossem mais possíveis.

Como dançar.





Se tudo fosse tão fácil de curar quanto um porre. Ela oscilava entre raiva, impotência e uma vontade enorme de ajudá-lo.

Só seu amor por ele não oscilava. Continuava ali: imutável, inquebrável, inabalável. Em um ponto no qual muitos desistiram, ela permaneceu. Quando vários não entenderam sua escolha, ela explicou: simples, não era uma escolha. Ela é ele, e ele é ela.

Simples.

Quando ela se senta no colo dele e, lentamente, a cadeira faz as vezes dos antigos dançarinos, os rostos de ambos ainda, depois de tanto tempo, transbordam de alegria. Eles ainda se adivinham. Sempre vão se adivinhar.

Talvez não seja o conto de fadas. Certamente, não foi o planejado. Não é disritmia - é um compasso harmônico e uma cadência (im)perfeita.

É amor.

(sei que o original é do Martinho, mas Ney Matogrosso e Pedro Luís
me provocam amor demais pra eu ignorar...)

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