Any given Sunday

Só mais um domingo de sol.

Um início de tarde preguiçoso, eu e tu deitados na cama. A janela entreaberta convida o sol, os sons e os aromas da vizinhança a nos visitar.

Uma criança chora; alguém canta uma música ao longe. Perfumes de comida entram no quarto: carnes, molhos, temperos... Ingredientes que deveriam despertar nosso apetite e nos tirar dali.

Mas não tiram. Estou perdida nos meus pensamentos. De mãos dadas contigo, mal consigo crer em tudo que mudou, em tão pouco tempo. Em como eu mudei.

Levanto os olhos, e encontro os teus, brilhantes, sorridentes, transbordantes da confiança que (quase) já compartilho contigo. Tua mão livre desenha o contorno da minha face. Fecho os olhos por um momento e escuto, rouco e desejoso de mim, o "menina" que me acelera o sangue.


Parece que a tua mão se encaixa perfeitamente em meu pescoço. Como é que pode?, penso eu, ainda surpresa por tantas pequenas coincidências entre nossos corpos.

Com o polegar, me acaricias o lábio inferior, e não despregas os olhos dos meus nem por um segundo. Sabes o quanto o contato visual é intenso e excitante para mim.

Sabes tanto de mim, sem que eu te diga. Da mesma maneira que eu te adivinho.


Não preciso olhar para saber que te excitas com minhas costas: tua respiração acelerada, meu bem, te denuncia... E eu, do meu lado, fico indecisa ao escolher o que me move mais: as inúmeras pintinhas do teu corpo, a tua barba rala arranhando minha pele branca e delicada, ou os teus pelos, tão escuros, tão abundantes...

Ainda me surpreendo ao ver desejo nos teus olhos, incendiando-te por mim. Ainda me surpreendo ao descobrir que também posso mandar nesta brincadeira, tão deliciosa, de nos descobrirmos.

A janela está entreaberta e o tempo passa, preguiçoso. Mas aqui, contigo, a sensação é de uma bolha, de que nada, absolutamente nada, pode nos incomodar, enquanto nos enlaçamos e nos perdemos um no outro.

Gemo alto e tu me fazes coro - não nos importa se nos ouvirão. Quero que tu me escutes, e que meu gemido fique impresso em teus tímpanos, como os teus sons - a tua risada, o teu sotaque - estão gravados em mim.

Entrelaçamos novamente os dedos, brevemente apaziguados. Eu, trêmula, ofegante, me aconchego ao teu corpo suado, e me delicio ao ouvir tua respiração pesada.

Antes de deixares o sono vir, tu ainda sussurras mais um "menina", agora manso, em meu ouvido. Mais uma vez, apenas consigo me maravilhar com a rapidez em que tudo mudou. Fecho os olhos e adormeço, também.

E este é *só* um domingo de sol.


Cool these engines
Calm these jets
I ask you how hot can it get
And as you wipe of beads of sweat
Slowly you say "I'm not there yet!"

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