As coisas que aprendi contigo

Aprendi que não tenho motivos para pouca autoestima
Que sou a "única pessoa" no mundo a usar relógio.
E a não gostar de chá.

Descobri que tenho um sorriso tímido que te conquistou
e que meus joelhos bagunçaram as tuas idéias.

Aprendi a ver a minha cidade com outros olhos.
Mais duros, mais cautelosos...
e a procurar nela motivos pra te encantar.

Me acostumei a ser acordada por ti, todos os dias.

[meu coração ainda pula de expectativa com o barulho do celular, esperando por tua mensagem, que não vem mais]

Me ensinaste que o melhor presente é o tempo que se doa; 
te doei todo aquele tempo que passamos juntos
- que não foi pouco, meu bem.

Me ensinaste que um olhar, às vezes, vale uma carícia.

Aprendi a dominar o jogo de seduzir; 
a não mais me deixar invadir pela insegurança; 
a cultivar a sensualidade

[lembra? "Sensualidade se cultiva, menina."]

Porque te sentia.
Porque tinha certeza de ti.
Em nenhum segundo, nenhum momento, lindo,
tive dúvidas a teu respeito.

Descobri que nunca desejei tanto um beijo em minha vida. 
Que meus melhores afrodisíacos são
a inteligência alheia, o bom humor 
e saber que te excitavas por mim.

[Não necessariamente nesta ordem.]

Esperei teu regresso como uma criança espera o Natal. 
Como a terra árida espera a chuva: ansiosa, plena, 
seca da tua água para me molhar.

Doida para te ter. 
Decidida, finalmente. 

E não esperava,
nem nos meus piores pesadelos... 
Isto.

[porque me fizeste acreditar: em ti e em mim; porque eu vi - eu ouvi, eu toquei - o teu desejo e a tua admiração por mim. eu ri contigo. eu ouvi e li teus tantos elogios.]

Aprendi que dá para admirar
profundamente o intelecto de alguém 
e desejá-lo fisicamente, a ponto de doer,
agudo, fundo, na carne.

E quis estar contigo como há muito, 
muito tempo não queria estar com alguém.
Como já nem me lembrava como era querer.

Aprendi a sorrir.
E a te fazer sorrir sempre.
"É sorriso?", perguntava eu.
"É sempre sorriso", me dizias.

[e, se era sempre sorriso, querido, por quê? é não saber o porquê que me mata.]

Descobri a Wikipedia.
Quis entender de números e de curiosidades.
Voltei a assistir o Fellini, pesquisei o Monty Python.
Comprei The Catcher in The Rye
e um presente de aniversário - que nunca vão ser entregues.

*

Aprendi tanto. Tanto. 

Só não me ensinaste a tapar este buraco
que a tua ausência súbita me causou 
e a calar este teu silêncio, que me ensurdeceu.

Não consigo me livrar da sensação
de que errei contigo
e te magoei, sem perdão.
Sem volta.  

Não sei como superar o arrependimento de ter te deixado passar
muito menos passar por cima desta dor, tão injusta,
de ter sido friamente descartada por ti.

[e, se querias que eu me lembrasse de ti com um sorriso, falhaste, falhaste miseravelmente.]

Só não aprendi, querido,
como me esquecer de ti 
e como posso te deixar partir
assim, sem uma palavra,
depois de tudo.

Mas vou. 
E vai ser ouvindo a tua voz a me dizer 
"Menina, por vezes, o som mais doce é o da porta a bater".

Então eu, que aprendi tanto contigo, 
vou aprender a te esquecer. 
Ah, se vou.

I don't know if you know
But when we miss each other soul
Look up, I'll meet you at the moon

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