Liberdade para o dia de amanhã

por Bia Cardoso*, musa e inspiração.

O calor e a falta do que fazer me deixam de short ou saia curta o dia inteiro. Liberdade é poder andar seminua, sentido o vento do fim da tarde. O sexo depilado, quase que por completo, esperando se surpreender ainda mais com o gelado de uma cachoeira, com uma calcinha nova ou com uma mão boba no meio da multidão. Um momento na vida, completamente distraída e displicente, como se fosse possível respirar assim todos os dias.

Mirou-me desde o primeiro instante. Quis passar a mão nas pernas, escorregar pelas coxas, ouvir os gemidos. Enquanto conversávamos sobre possíveis formas de atiçá-lo ainda mais, ele aproximava a boca do meu ouvido e arrastava a barba por meu pescoço, chegava bem perto da boca enquanto eu brincava de fugir de suas tentativas. Se divertia com o sorriso e os olhos bem despertos pelas possibilidades de um amor de verão. Tão improvável e apetitoso.

Os beijos foram se encaixando com o tempo. A boca fina e pequena dele se perdia um pouco nos lábios carnudos dela, nada que uma mão forte na cintura e outra na bunda não resolvessem. Aquele beijo agarrado, escorado numa pilastra, escondidos por uma penumbra, uma falha do poste da praça. Depois de alguns minutos se provando de pé, na separação das bocas é visível a aflição dos seios presos ao sutiã. E ríamos, porque estávamos vermelhos, mas ainda não satisfeitos. Três dias de encontros ao acaso, na rua plena de pessoas e vozes.

Ele deita e ela gentilmente escorrega os dedos por seus cabelos. Ele sente o perfume dela se misturando ao suor. Os vidros do carro ainda embaçados e a rua deserta na madrugada criam sombras de verão. E respiram o ar adocicado pelo sexo. Então, ele diz:
– Nós poderíamos ficar assim o resto da vida.
E sorriem cúmplices, felizes por estarem vivos, ali, naquele dia.





* Musa e inspiração convidada de hoje:


Bia Cardoso teve uma curta carreira de escritora erótica entre 2005 – 2007. Esse texto é dessa época, quando ela se divertia com garotos de 40 anos, com homens de 20 anos e nem pensava no gozo de hoje. 

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