De mansinho

Para D., que me ensina a gostar de mansinho - principalmente de mim mesma.

Meus gostares sempre foram agoniados:
     doloridos, afobados, trêmulos.
Muitas vezes, gostei sozinha
     e, sozinha, chorei, infinitas noites.

Por tantas, tantas vezes, desejei me sentir em paz.
Parecia que querer tanto segurar a tranquilidade junto de mim
     só a fazia vazar por entre meus dedos.

*

De levinho, usando sapatos macios,
     ele chegou em minha porta.
Descalçou-os, e, de meias, com seu sorriso brando,
     com seu olhar de menino tímido,
     pediu licença e entrou.

Manso, falando baixo e quase nada de si,
     me ouviu.
Me olhou nos olhos,
     enquanto eu - claro - falava incessantemente,
     riu comigo,
     e se surpreendeu de mim.

Eu vi, a admiração estava ali, em seus olhos.
I like my body when it is with your body.
Ele, então, me tirou pra dançar.
Segurou firme em minha cintura
     e, quando vi, eu girava,
     conduzida por ele.

Encantado, ele me deu a mão.
Entrelaçou os dedos nos meus,
     suave, me beijou,
     me acariciou de levinho
     (mesmo que seus olhos traíssem o desejo que lhe consumia)
     e, por fim, suspirou no meu abraço.

*

Só então, falou de si. Se mostrou e desnudou (menos do que eu gostaria, confesso)
E, ali, naqueles braços tranquilos,
     naquele falar baixinho,
     naqueles olhos mansos,
     em sua boca macia e quente,
     eu me aninhei.

*

Porque, desta vez, eu não corro,
     não tremo (tá, D., eu tremo, mas só quando estou sozinha com você),
     não me afobo, não me agonio...

Porque não me preocupo com (quase, ehehe) nada
     além do aqui, do agora,
     das horas que compartilhamos.

Porque a cada "linda" que escuto,
     a cada vez que me vejo, linda sim, refletida em seus olhos,
     e acredito em você,
     e por muitas, muitas outras delicadezas
     que você, só você, me faz;

     mas, principalmente, por me aceitar,
     e por me ensinar a me aceitar... de mansinho,
     sem pressa, sem correria,
     do seu jeitinho, meu querido.

Finalmente, eu acho
     que encontrei a tranquilidade
     que eu tanto procurava.
O sossego que não cobra, que não exige,
     que se preocupa,
     desfruta, compartilha.

A paz.




"Fingers trace your every outline
Paint a picture with my hands
And back and forth we sway
Like branches in a storm
Change of weather
Still together when it ends"

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