Tomados por las manos*

*"De mãos dadas", em espanhol.

"Making love was never about you and me in bed. We made love whenever we held hands."

_unknown

Ela se deitou no braço do rapaz. Fechou os olhos e suspirou, feliz.
A moça se aconchegou ao corpo dele, ouviu seu respirar, tranquilo
     e mal pôde se mexer, tamanha foi a surpresa que a atingiu.
Pensou, estarrecida, Sou eu, aqui? Desejada, querida, mimada?

Ela se aconchegou melhor a ele, e sentiu seu cheiro
     o cheiro do perfume dele, do suor, mas também o cheiro dela,
     de seu perfume feminino e adocicado, de seu suor mais suave, 
     tudo ali, junto, pairando no ar. Um novo aroma, transformado.
Ela se deitou no peito dele, e ouviu o coração batendo por ela,
     de um jeito acelerado, descompassado, ofegante.
Sorriu, com o rosto escondido nos pelos dele.

Mesmo assim, o moço pressentiu o sorriso dela. Ele sempre pressentia.
Uma vez, lhe dissera, Você sorri com os olhos, linda. Não preciso ver sua boca.
Naquela noite, ele lhe adivinhou o sorriso, e, intrigado,
     perguntou-lhe, O quê?
Ela, que não se furtava de responder às perguntas dele,
     por mais íntimas, mais intensas que fossem,
     contou, É seu coração, lindo, batendo acelerado de há pouco.

Ele não acreditou. Riu, sem jeito, e respondeu Oras...
     com o rosto meio sério, meio encabulado, 
     como se fosse uma criança pega no pulo, no meio de uma arte.

A moça se aconchegou a ele. Fechou os olhos e aproveitou os carinhos
     desinteressados, preguiçosos, que ganhava.
A mão dele alisando seu cabelo, como se quisesse tirar
     dela tudo, todas as angústias, todas as dores
     (e, mal sabia ele, todas se iam, ao menor toque de sua mão).

Ele a tocava com uma delicadeza tão imensa, tão suave,
     que, a olhos desavisados, não pareceria que, ainda agora
     ele lhe dizia Não prende seu cabelo, linda, deixa solto,
     com um olhar de a devorar, com a voz rouca, e 
     com o corpo pedindo por ela.

Ela se deitou no braço dele, os cabelos espalhados em cachos,
     a mão dele, leve, acarinhando-a
     e a dela, mais ousada, explorando-o, sentindo seus recessos e 
     suas protuberâncias.
Seus pelos, fartos, e suas texturas.
Provando, com seu tato feminino, os sabores masculinos ali, 
     à sua disposição.


_ Eu vi galáxias em seus olhos

Contando as inúmeras pintinhas das costas dele, e sentindo-o mergulhar
     de cabeça em seus olhos imensos, ela se deixou perder de novo.
Junto com ele, perderam a noção de suas mãos;
     beijou-o e deixou-o arranhá-la, com a barba rala, já pressentindo as marcas 
     avermelhadas no seu corpo, mais tarde.
Entrou em órbita, se esqueceu de si, enfiou as unhas nas costas dele
     e, ali entregue, deixou de saber quem era.

Deixou de ser filha, irmã, amiga
Não era mais tia, neta, prima
Nem se lembrava se algum dia teve profissão
Não sabia mais de seus gostos, 
    nem dos desgostos.

Ela se deitou no abraço dele,
     se entrelaçou em seu corpo 
     - aquele, que ela já conhecia tão bem -
     e, com ele...

...só sou - e só quero ser - mulher.



"I call it magic
When I'm with you"

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