Never say goodbye

Eles se encontraram na estação de trem. Surpreso ao vê-la esperando-o na plataforma, o moço caminhou até ela, um sorriso tímido nos lábios e os olhos cheios d'água.

"Como foi que eu a deixei escapar? Em que momento eu a reduzi a ser apenas minha amiga?". Pensamentos se atropelaram em sua cabeça enquanto eles se aproximavam.

Olhando profundamente em seus imensos olhos castanhos e aspirando pela última vez o doce perfume que sempre o faria se lembrar dela, uma única palavra lhe brotou nos lábios.

– Nunca.

Ela se afastou, também sorrindo dolorosamente, e o olhou no fundo da alma, como só ela fazia. Ela o lia, perfeita e tão fluentemente quanto seus amados livros.

– Nunca, o quê, querido?
– Nunca deveria ter deixado você ir.
– Deixado, não. Você me obrigou a ir. Simplesmente me rejeitou. Eu não tive escolha.
– Ainda assim, você ficou com sua amizade.
– Pois é, baby. Eu sou dessas.
– Dessas?
– Tonta, né. E, no fundo, eu tinha a esperança de fazer você voltar atrás.
– Até que ele chegou.
– Caraca, menino! Eu não podia ficar esperando você pra sempre! – indignou-se ela, entre risos.

Deram-se as mãos – pela primeira vez – e se puseram a caminhar pela plataforma. Ela olhou os dedos entrelaçados e pensou o quanto havia desejado aquele momento: aquela mão tão linda entrelaçada na sua, caminhar lado a lado com ele... e como agora havia alguém que a fizera dar um novo significado ao gesto. Um homem, alguém que desde o primeiro momento tornara tudo tão fácil.

– Ele trata você bem? – perguntou o rapaz, melancólico.
– Muito.
– Você tá feliz?
– Demais. Como fazia tempo que não tava.
– Então. Acho que não era pra ser.
– O quê?
– A gente.
– Ah, – suspirou a moça. – Isso, coração, a gente nunca vai saber. Nunca. A gente... VOCÊ nem tentou.
– É. E vou me arrepender pra sempre.

Os olhos dela se encheram de água e ela desviou o rosto. Não queria que ele a visse chorando: nunca chorara na frente dele, nem quando ele lhe dissera que só queria sua amizade, e não seria agora ao se despedir que o faria.

– Vai ver não era pra ser, – disse ela.
– É.

O trem apitou. Ele ajeitou a alça do violão nas costas e ergueu a mala, pronto para embarcar.

– Então tá, querida. Obrigado por vir.
– Espera. Quero te dizer uma coisa.
– Diz.
– Não tenho mágoa de você, baby. Você é uma pessoa especial na minha vida. Você me fez querer reviver, quando eu achava que não havia mais possibilidade de vida pra mim. Você abriu a porta pra mim. E eu, do fundo do meu coração, espero que você possa ser feliz e encontrar alguém que te deixe em paz, como eu estou.
– Você tá em paz? Ele te deixa em paz?
– Sim. Meu coração tá em paz. Minha cabeça tá em paz, eu tô em paz.
– Então eu também tô em paz. Amigos?
– Amigos. Sempre.

Ela acariciou o rosto dele, como há muito não mais fazia, e o estreitou em um abraço apertado, daqueles de tirar o fôlego. Deu-lhe  um beijo que mal lhe roçou a barba, murmurou qualquer despedida e se afastou rapidamente. Por entre lágrimas, ele não deixou de notar os ombros dela se sacudindo, como se ela chorasse convulsivamente.

Subiu no trem, acomodou a mala e o violão e fechou os olhos. Quando o trem se botou em movimento, falou baixinho, para si mesmo:

– É, querida... Não era pra ser.

Comentários

  1. Bacana. Queria muito criar histórias com ações e diálogos. Mas eu travo rs. Parabéns pelas suas escritas. Vou ler mais. Bjs

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