Celebrando a vida de d. Izaura

Hoje eu não quero chorar a morte de minha avó.

Quero celebrar seus quase 92 anos de vida. Quero agradecer a Deus por ter permitido que ela permanecesse conosco até agora, e também por não ter deixado que ela sofresse demais nesse final - porque ao longo da vida, já havia carregado sua cota de dores.

Quero me lembrar da avó que ela foi até 20 anos atrás, a avó doce que deixava tudo, que me deixava brincar de comidinha com seus medidores de alimentos (um jogo de plástico cor de laranja daqueles que começam em meia colher de chá e vão até uma xícara).

Quero lembrar dela me ensinando a colocar as pétalas da Maria-sem-vergonha nos dedos, pra parecer unha postiça; quero lembrar de todas as comidas gostosas que ela preparou, do carinho com que recebeu minhas amigas em sua casa, e de todas as roupas que costurou pra mim.

Quero lembrar dela cantando "chip mingati futi peteque condisteque te darec", uma musiquinha maluca que fazia a gente chorar de rir, dos quadros com retratos e paisagens que pintou e de me ensinar a fazer crochê e tricô.

Tanta coisa pra lembrar.

Daí teve a "outra" vó. A que surgiu depois de 40 dias em coma, há 20 anos, brava, meio aérea... a que brigou comigo porque eu me "casei e não a convidei pro casamento". A que sempre me perguntava do Maurício (o meu "marido"), que sempre me perguntava se eu tava grávida. Acho que eu frustrei os planos dela, tadinha.

São tantas memórias, tantas recordações. Uma vida tão plena, uma mulher que segurou as pontas da casa costurando pra fora, que venceu um câncer de mama há mais de 40 anos, que saiu de um coma de mais de um mês e viveu por mais 20 anos... Como não celebrar essa vida? Como?

Vai em paz, vovó. Obrigada por tudo, de verdade. Te amo.

☆ 01/10/1925
☆☆ 25/06/2017