Moto-contínuo

Fecho os olhos e me dou conta que o dia chegou de novo. Dói, e eu enfio a cara no trabalho, não importa ser sábado, domingo, feriado, eu trabalho, trabalho, trabalho e quase não respiro, não vejo os dias passarem e de novo chegou esse dia e meu Deus, essa dor, esse buraco, esse vazio gigante. 

Trabalho pra não ver, pra não sentir, pra não doer, e continua doendo tanto. Sei que só escondo tudo dentro de mim, atrás de um sorriso bobo, de um otimismo que não sei pra quê, escondo dos outros e de mim, tudo o que poderia ter sido e não foi. 

Já sei que o dia vem, vai, passa. A pontada no coração diminui, eu escondo, finjo que tá tudo bem até acreditar que tá, até deitar no escuro e chorar, deixar vazar pra não sufocar com essas lágrimas amargas e ardidas. 

É a mão dura da angústia que se fecha na minha garganta, que me impede de olhar pra frente, porque lá atrás tem um rosto que não conheci, só imaginei, só vi em sonhos. Não sei deixá-lo. Não sei como seguir sem ele. 

Então me enfio no trabalho, e trabalho, trabalho, trabalho, sábado, domingo, todo dia, até estar exausta e apagar, e querer dormir, pra vê-lo em sonhos, pra não chorar, pra não sentir, pra não doer. 

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