Se pudesse voltar no tempo e conversar com a Tassia do início da adolescência, bobinha, romântica e ingênua (no que foi que eu mudei mesmo, além da idade?), eu me daria uns conselhos...
"Prestenção, menina! Esse mundo é maluco. Olha só: se uma pessoa entra numa briga sem hesitar, é corajosa; mas se declarar seus sentimentos da mesma maneira, é fraca. Não sabe se controlar. Falta-lhe delicadeza.
Se gostar de alguém, melhor não demonstrar. Porque o outro pode se assustar e fugir de você... ou pior, lhe dar o fora e tratar seu afeto com piedade e condescendência.
Ah, você não sabe o que é isso? Puxa, é um jeito de dizer 'não', sem ofender... tipo: eu não gosto de você, mas você é ótima pessoa, quem tá perdendo sou eu. Sabe como é? Não tem jeito de ficar com raiva do outro assim, né?
E nós sabemos, Tassinha, que não lidamos bem com raiva. Preferimos engolir a tristeza, botar panos quentes, deixá-la nos consumir, a ter raiva de alguém de quem tanto gostamos um dia...
Mas voltando. Aprenda, minha querida, a dissimular o que você sente. Não seja tão transparente, não... vai por mim, isso não é uma qualidade. Sei que você acha que é, mas não. Esconda um pouco seus olhos - eles denunciam você demais. Brilham muito, falam coisas que não deveriam, entregam em excesso.
Tem a coisa de escrever, também. Por enquanto, pelo que eu me lembre, você só escreve em caderninhos, e não mostra pra ninguém. Ó, quando você for eu, vai ter um lugar onde você pode colocar o que escreve pra todo mundo ver. É, inclusive ele. Meu conselho? Publica. São textos sobre afeto, esperança, carinho... Não tem que ter vergonha nenhuma deles. Te faz bem por esses sentimentos pra fora? Publica.
Se eu acho que vale a pena se apaixonar? Que pergunta, menina. Somos românticas, e nada do que eu disser vai te convencer do contrário. Meu coração tá todo remendado, meio capenga, se é isso que você quer saber, e triste ainda, bem triste, pela última desilusão. Mas eu acho que valeu a pena.
É isso mesmo que você ouviu. Valeu. Sabe por quê? Porque eu acreditei. Em mim, nele, em nós dois juntos, na felicidade, no amor. Eu não vivi de ilusões. Eu vivi de possibilidades. E, bem. Não deu certo.
Se doeu? Puxa, garota, olha pra mim. Essas olheiras te dizem algo? E os olhos inchados de (ainda) chorar? Dói. Pra caramba. A dor pior é a falta que ele faz. É não falar com ele. É não saber como as coisas estão. Se ele está bem de saúde, como está a mãe dele, como tá o trabalho.
Dói não saber. Porque a gente se acostuma. A gente se acostuma até com coisa ruim, não vai se acostumar com alguém que te fez bem?
Então é claro, sua boba, que eu tô sofrendo. E com uma vontade imensa de sumir de todos, e de tudo, por muito tempo. Só que não dá. Sou adulta - e essa é uma das dores de crescer. Pelo menos pra mim não existe essa possibilidade de fugir de algo que me faz sofrer. Eu fico e enfrento. M-e-s-m-o que doa.
Por isso, eu tô aqui, batendo esse papo contigo. Talvez, se melhorarmos nosso jeito em você, eu não caia de paixões por ele. Talvez eu conheça alguém legal antes e não sofra tanto.
Alguém que realmente nos queira, independente do que somos ou de nossa aparência. Que realmente se preocupe com a gente. Que não peça desculpas só pra deixar a própria consciência tranquila. Que fale olhando nos nossos olhos. Que não seja condescendente, nem tenha piedade conosco. Nem seja frio no momento em que mais precisamos, e nos deixe sozinhas, de mãos estendidas.
Pensa nisso com carinho. Por mim. Por nós, aliás. Porque, sem querer te desanimar, eu acho que não fomos feitas pra essa coisa de amar, ainda que amemos, e muito."
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