:: quando você me vê ::

Você. Com seus olhos tímidos e fugidios.
Esses olhos, que camuflam uma dor que eu, impotente, não consigo tocar.

Esses olhos, no entanto, viram a minha dor. Esses olhos veem a criança insegura que mora em mim, e me dão a mão, e me obrigam a andar na corda bamba, mesmo sabendo da minha ansiedade, mesmo sabendo que nossos tempos não são iguais.

Esses olhos riem - sem querer e delicadamente - da minha inabilidade em jogar esses jogos de casal. E sabem que (quase sempre) vou perdoar a agonia provocada pela calma atrás da qual eles se escondem.

*

Ainda assim.
Ainda assim, você cuida da minha criança.

Mesmo resmungando que sou manhosa, não se nega, com um meio sorriso e de olhos brilhantes, a acariciar meus cabelos, beijar meu pescoço, aspirar minha nuca e meu perfume - como quem quer se perder ali, meio zonzo. Como se ali fosse o melhor lugar do mundo.

Você me viu. Você me vê, imperfeita, fora dos padrões, exagerada (e mil rosas roubadas), afobada, desajeitada... e mesmo assim fica. Como quem se admira de estar. Como se minha única alternativa não fosse a de permanecer, segura, aquecida, protegida - e feliz - nas suas mãos.

*

Você me ouve, e às vezes tenho certeza que, nesse ouvir, também me vê. E me vê quando me toca. E me vê quando me saboreia, com minhas histórias sem fim, e minhas risadas, e minhas invencionices. E me vê quando se permite, em alguns momentos, relaxar. Se permite apenas ser, comigo. Você.

*

Você me vê de olhos fechados e no escuro, quando me beija, me roça a barba, me aperta e suspira em coro com meus suspiros. Mesmo perdido em si, você não deixa de me ver. Mesmo quando eu estou de olhos bem apertados, perdida em mim, vejo seu olhar me admirando. Me desejando. E nada - NADA nesse mundo pode ser mais excitante para mim.

*

Você me viu. Quando eu estava perdida de mim, afogada na autocomiseração, cega de dor e confusa. Quando, egoísta e enlouquecida, nem eu mesma me via.

Quando eu era invisível para mim e para os outros, você, com seu jeito doce, me enxergou facilmente. E eu já não me lembro mais de como era viver às cegas, sem seu espelho no qual me mirar.



I hope you don't mind, I hope you don't mind
That I put down in words
How wonderful life is while you're in the world.

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