Das esperas e da transitoriedade da dor

"A dor é passageira; desistir é para sempre."

Li essa frase ainda agora no Facebook de uma amiga. E como tenho feito no último mês, pensei, pensei. E pensei.

A gente espera tantas coisas pra ser feliz. Esperamos emagrecer pra finalmente entrar naquele jeans fabuloso; esperamos o emprego dos sonhos pra ganhar bem e poder comprar aquele pacote de viagem tão esperado.

Esperamos uma ligação especial no final de semana; esperamos um dia de sol pra sorrir.

Esperamos pra nos entregar. Porque, né, vai que não é ele. Vai que ele tá só esperando alguém melhor que eu. Mais bonita, mais gostosa, mais inteligente, mais bem sucedida. Melhor esperar pra dizer que gosto.

Esperamos um pouco mais do que recebemos. Mais que a sexta à noite. Talvez um domingo. Uma mensagem perdida no meio da semana "um beijinho, bom soninho pra você também". Um sinal qualquer. 

Esperamos. 

Puxa, estou apaixonada. Mas ainda assim é melhor esperar. Vai que ele se assusta. Melhor deixar as coisas fluírem. Melhor deixar como está - ele vai ceder, uma hora ou outra, porque afinal de contas, não é possível que não veja o tanto de amor que me transborda pelos olhos. Ele vai ceder. 

Esperamos. Esperamos ter esperança e certeza pra saber que o relacionamento vale a pena. Certeza? No amor? 

Esperamos. Porque é mais fácil. Porque é  mais cômodo. Por medo. E não adianta nada: a dor vem. Estraçalha, nos rasga em duas metades. Pica em pedacinhos. Paralisa, amedronta, faz chorar.

Ainda assim, a gente espera. Que o outro caia em si, que se comova com minhas lágrimas, com meus beijos, ainda tão cheios de paixão. A gente espera que ele seja menos inflexível, que se permita, que tente. Que abra só uma frestinha na porta que bateu com tanta força na minha cara. 

A gente espera. Espera, espera, até que cai em si e percebe que não adianta - não há tempo que remende o que se rasgou. Não há. Não há como forçar algo que o outro não é capaz de dar. Não há como fazer brotar água num deserto. Não tem jeito de amolecer um coração endurecido, se ele não quer ceder. 

Não adianta esperar, se quem se espera já nos deu as costas. O pior sentimento do mundo: a impotência, com um mundo de amor nas mãos. O que eu faço com tudo isso, agora? 

O consolo, se é que há? Não fui eu que desisti. Não fui eu quem abriu mão do amor e do sentimento. Eu não abri mão de ser feliz. Eu não desisti, mesmo tendo muito mais motivos pra sentir medo, pra ficar insegura.

Belo consolo. Mas a dor é transitória - a desistência é pra sempre. E não fui eu quem desistiu de nós. Eu o carregarei sempre num lugar especial do meu coração. Sem mágoas. Só uma dor, cada vez menos aguda, mas que ficará pra sempre lá dentro do peito, como a lembrança de uma fratura exposta. 

Continuo aqui, parada (de novo) numa encruzilhada movimentada, de céu azul e de pessoas passando, esperando amar - quem sabe com recíproca, quando ousar arriscar, ou se houver próxima vez. 

Don't speak 
I know just what you're saying
So, please stop explaining 
Don't tell because it hurts

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