:: Uma história especial para minha querida amiga Priscila ::
"Ser feliz é a maior coragem. Todo mundo é capaz de ser infeliz; para ser feliz é preciso coragem - é um risco tremendo." (Osho)
Acordou no meio da noite com o apito do celular. "Preciso conversar. Você tá acordada?". Às 2h30 da manhã, achava improvável que alguém pudesse estar acordado e disponível para uma conversa. Mas ela era a amiga sempre pronta pra tudo, e não tinha coragem de dizer não. E lá se foi, atender a amiga necessitada.
Quando voltou para a cama, sonhou. Seu coração, no sonho, ocupava todo o peito. O sentimento transbordava, mas ela se sentia vazia, como se todo aquele amor precisasse ser canalizado para alguém.
Viu-se em um campo repleto de margaridas: um lugar lindo, quase poético. Andou por um longo período, tão grande que já não sabia há quanto tempo andava. Passou a se sentir melancólica e cansada de ficar sozinha. As margaridas já não pareciam mais tão bonitas e a paisagem já não era mais tão poética. Seu coração, tão grande, doía com tanta solidão e pela falta de alguém com quem compartilhar aquela vista.
Apesar de querer parar, as batidas daquele coração gigante só a empurravam para a frente. Ela já chorava de cansaço quando chegou a um lago. Na margem, sentado em um banco, um rapaz a esperava com um copo de água na mão. Coisas de sonho: durante todo o tempo em que esteve ali com ele, não conseguiu ver seu rosto. Quando acordou, só se lembrava do som de sua voz e de como seu coração se aqueceu ali, naquela presença tão calorosa e acolhedora.
Tomou aquilo como um sinal, de que finalmente conheceria aquele alguém que tanto lhe fazia falta, que finalmente sua vida se preencheria de calor e significado. Passou a realizar suas atividades cotidianas em um estado permanente de atenção, buscando de novo aquela sensação de intimidade e entrosamento. Procurava reconhecer o som da voz daquele homem que tinha certeza que andava por aí à sua procura, mesmo só tendo lhe aparecido em sonho.
À medida em que os dias passavam, a certeza já não era mais tão grande. "Não é possível que ele tenha me aparecido em sonho para ser só isso - um sonho", pensava, cada vez mais desiludida.
No dia em que estava mais enlouquecida por causa do trabalho, em que nem se lembrou de passar perfume, de tão cansada que estava; no dia em que não tinha almoçado, em que tinha brigado com clientes ao telefone, em que perdeu uma consulta médica e o horário da academia, ela o conheceu.
Parou na padaria com uma colega lá pelas tantas da noite para um sanduíche e um suco. Seu estômago roncava de fome e cada pedaço do seu corpo doía da tensão acumulada ao longo do dia. Ela nem percebeu, mas estava cansada exatamente como em seu sonho. Parecia prestes a chorar a qualquer minuto: sua raiva estava tão grande que achava que poderia estrangular alguém.
Até que ele chegou. Por um segundo, ela se irritou com o rapaz que interrompeu a conversa, para cumprimentar sua amiga. Já estava prestes a partir para a grosseria quando ouviu a voz dele e, naquele instante, foi como se realmente seu coração tivesse o tamanho de seu peito.
Ele tinha tudo o que ela queria. Juntos, construíram sonhos e dividiram preferências, compartilharam carinho, dias incríveis e noites intermináveis. Contaram seus segredos mais profundos, uniram os amigos e as famílias e, em um caminho que pareceu natural, um dia decidiram juntar suas vidas e se casarem.
Esta decisão disparou a roda viva: apartamento, reformas, móveis... cerimônia? Festa ou lua de mel? Embalada em tantos preparativos, ela não percebeu que ele já não estava na mesma sintonia que ela. Aterrado por problemas, assolado por angústias, ele não era mais aquele homem de seu sonho, aquele que lhe ofereceu um copo de água depois da caminhada e lhe acolheu tão bem.
Em meio a brigas e discussões, aos poucos ela sentia que ele lhe escapava pelo vão dos dedos. Quanto mais ela se agarrava àquela imagem do homem por quem se apaixonara, mais ele a decepcionava. Uma sombra de insegurança pairava sobre aquele casamento - que ela insistia que iria acontecer. Ela achava que poderia recuperá-lo, que ele, ao casar, se esqueceria dos problemas financeiros e de suas angústias psicológicas e se lembraria do amor imenso que os uniu.
Mais tarde, ela se lembraria daquela fase pelo cansaço interminável que sentia, e admitiu que era de tanto brigar para não o deixar desistir de tudo. Adormecia ansiando por voltar a ter aquelas lindas noites do início do relacionamento, rezando para que um milagre acontecesse e ele se comprometesse novamente com o casamento.
Uma noite, sonhou. Corria desesperada através de uma névoa espessa. Ao longe, ouvia os gritos de seu noivo, chamando por ela. Aflita, chegou na beirada de um precipício, aonde ele se segurava, sem conseguir voltar para cima. Ela não conseguia ver o fundo do despenhadeiro, pois ele também estava imerso em neblina. Se agarrou com todas as suas forças às mãos dele, mas não conseguia puxá-lo para cima. Quanto mais ela apertava suas mãos, mais ele escorregava...
Em um determinado momento, ele partiu seu coração: "Meu amor, eu não aguento mais. Me deixe ir."
Cansada, ela cedeu e o largou. Fechou os olhos, esperando ouvir seu grito enquanto caía, mas tudo o que ouviu foi um baque suave. Criou coragem, abriu os olhos e viu que não era um precipício - o fundo estava ali, a menos de um metro de altura, e ele estava parado a salvo, de pé e tranquilo. Antes de se afastar, ele colocou as mãos nos bolsos, deu um meio sorriso e se foi - sem olhar para trás.
Acordou chorando e com a sensação de que seu coração tinha ficado microscópico. Sua tristeza era imensa, mas finalmente ela entendeu o que tinha que fazer: precisava terminar com aquele sofrimento e entender que nem todo o amor que ela sentia iria salvar aquele homem de alma e coração quebrados. Ele já não era mais o seu amor, e nada do que ela fizesse resgataria seu relacionamento. Estava na hora que romper os laços e deixar de ser um com ele.
Nunca tinha feito nada tão difícil em sua vida. Mas a apatia dele e sua expressão de alívio quando ela lhe contou sua decisão só lhe deram a coragem de que ela precisava para interromper aquele sofrimento.
Os primeiros tempos após a separação se passaram em meio a uma dor aguda no peito, a uma apatia gigantesca e à certeza de que ninguém o substituiria em seu coração. Ela estava certa de que nunca mais seu coração seria enorme como um dia tinha sido, preenchido por seu amor.
Não contou sobre o rompimento para ninguém, a não ser sua família. Se encheu de trabalho, blindou-se das sensações, das emoções e das tristezas. Levantou um muro em torno de si e vestiu uma armadura para se proteger.
Só que a vida não para. As demandas profissionais se acumularam, as exigências familiares continuaram, os amigos não deixaram de solicitar sua presença. Mas será que ninguém percebia que tudo o que ela queria era se fechar em um quarto escuro e ficar quietinha lá? Ninguém percebia que ela só queria curtir sua fossa sozinha?
Não, ninguém. Um dia, ela percebeu que não adiantava se aborrecer com sua família, seus amigos e colegas. Ninguém se importava porque ELA não tinha contado para ninguém. Foi ela quem vestiu uma armadura. Ela quem se isolou atrás do muro. E, se ela não estendesse as mãos e pedisse ajuda, corria o sério risco de amargar aquela infelicidade para sempre.
Assimilar essa realidade tirou um peso enorme de suas costas e abriu uma fenda em sua armadura. Doeu compartilhar suas infelicidades com familiares e amigos, mas o gosto amargo de sua boca se diluiu. Suas lágrimas voltaram a cair, mas agora já tinham ombros que as amparassem e mãos que as enxugassem.
Ela entendeu que só assim, expurgando suas dores, dividindo-as, é que poderia se abrir para um novo amor. E descobriu também que existem outras formas de amar: o cachorro, os amigos, os irmãos, os pais, a sobrinha. O coração? Ah, ele vai voltar a crescer. Vai voltar a tomar conta de seu peito e pulsar com toda a força. Vai se abrir para um novo amor - basta que ela tenha a coragem de dizer sim.
Viu-se em um campo repleto de margaridas: um lugar lindo, quase poético. Andou por um longo período, tão grande que já não sabia há quanto tempo andava. Passou a se sentir melancólica e cansada de ficar sozinha. As margaridas já não pareciam mais tão bonitas e a paisagem já não era mais tão poética. Seu coração, tão grande, doía com tanta solidão e pela falta de alguém com quem compartilhar aquela vista.
Apesar de querer parar, as batidas daquele coração gigante só a empurravam para a frente. Ela já chorava de cansaço quando chegou a um lago. Na margem, sentado em um banco, um rapaz a esperava com um copo de água na mão. Coisas de sonho: durante todo o tempo em que esteve ali com ele, não conseguiu ver seu rosto. Quando acordou, só se lembrava do som de sua voz e de como seu coração se aqueceu ali, naquela presença tão calorosa e acolhedora.
Tomou aquilo como um sinal, de que finalmente conheceria aquele alguém que tanto lhe fazia falta, que finalmente sua vida se preencheria de calor e significado. Passou a realizar suas atividades cotidianas em um estado permanente de atenção, buscando de novo aquela sensação de intimidade e entrosamento. Procurava reconhecer o som da voz daquele homem que tinha certeza que andava por aí à sua procura, mesmo só tendo lhe aparecido em sonho.
À medida em que os dias passavam, a certeza já não era mais tão grande. "Não é possível que ele tenha me aparecido em sonho para ser só isso - um sonho", pensava, cada vez mais desiludida.
No dia em que estava mais enlouquecida por causa do trabalho, em que nem se lembrou de passar perfume, de tão cansada que estava; no dia em que não tinha almoçado, em que tinha brigado com clientes ao telefone, em que perdeu uma consulta médica e o horário da academia, ela o conheceu.
Parou na padaria com uma colega lá pelas tantas da noite para um sanduíche e um suco. Seu estômago roncava de fome e cada pedaço do seu corpo doía da tensão acumulada ao longo do dia. Ela nem percebeu, mas estava cansada exatamente como em seu sonho. Parecia prestes a chorar a qualquer minuto: sua raiva estava tão grande que achava que poderia estrangular alguém.
Até que ele chegou. Por um segundo, ela se irritou com o rapaz que interrompeu a conversa, para cumprimentar sua amiga. Já estava prestes a partir para a grosseria quando ouviu a voz dele e, naquele instante, foi como se realmente seu coração tivesse o tamanho de seu peito.
Ele tinha tudo o que ela queria. Juntos, construíram sonhos e dividiram preferências, compartilharam carinho, dias incríveis e noites intermináveis. Contaram seus segredos mais profundos, uniram os amigos e as famílias e, em um caminho que pareceu natural, um dia decidiram juntar suas vidas e se casarem.
Esta decisão disparou a roda viva: apartamento, reformas, móveis... cerimônia? Festa ou lua de mel? Embalada em tantos preparativos, ela não percebeu que ele já não estava na mesma sintonia que ela. Aterrado por problemas, assolado por angústias, ele não era mais aquele homem de seu sonho, aquele que lhe ofereceu um copo de água depois da caminhada e lhe acolheu tão bem.
Em meio a brigas e discussões, aos poucos ela sentia que ele lhe escapava pelo vão dos dedos. Quanto mais ela se agarrava àquela imagem do homem por quem se apaixonara, mais ele a decepcionava. Uma sombra de insegurança pairava sobre aquele casamento - que ela insistia que iria acontecer. Ela achava que poderia recuperá-lo, que ele, ao casar, se esqueceria dos problemas financeiros e de suas angústias psicológicas e se lembraria do amor imenso que os uniu.
Mais tarde, ela se lembraria daquela fase pelo cansaço interminável que sentia, e admitiu que era de tanto brigar para não o deixar desistir de tudo. Adormecia ansiando por voltar a ter aquelas lindas noites do início do relacionamento, rezando para que um milagre acontecesse e ele se comprometesse novamente com o casamento.
Uma noite, sonhou. Corria desesperada através de uma névoa espessa. Ao longe, ouvia os gritos de seu noivo, chamando por ela. Aflita, chegou na beirada de um precipício, aonde ele se segurava, sem conseguir voltar para cima. Ela não conseguia ver o fundo do despenhadeiro, pois ele também estava imerso em neblina. Se agarrou com todas as suas forças às mãos dele, mas não conseguia puxá-lo para cima. Quanto mais ela apertava suas mãos, mais ele escorregava...
Em um determinado momento, ele partiu seu coração: "Meu amor, eu não aguento mais. Me deixe ir."
Cansada, ela cedeu e o largou. Fechou os olhos, esperando ouvir seu grito enquanto caía, mas tudo o que ouviu foi um baque suave. Criou coragem, abriu os olhos e viu que não era um precipício - o fundo estava ali, a menos de um metro de altura, e ele estava parado a salvo, de pé e tranquilo. Antes de se afastar, ele colocou as mãos nos bolsos, deu um meio sorriso e se foi - sem olhar para trás.
Acordou chorando e com a sensação de que seu coração tinha ficado microscópico. Sua tristeza era imensa, mas finalmente ela entendeu o que tinha que fazer: precisava terminar com aquele sofrimento e entender que nem todo o amor que ela sentia iria salvar aquele homem de alma e coração quebrados. Ele já não era mais o seu amor, e nada do que ela fizesse resgataria seu relacionamento. Estava na hora que romper os laços e deixar de ser um com ele.
Nunca tinha feito nada tão difícil em sua vida. Mas a apatia dele e sua expressão de alívio quando ela lhe contou sua decisão só lhe deram a coragem de que ela precisava para interromper aquele sofrimento.
Os primeiros tempos após a separação se passaram em meio a uma dor aguda no peito, a uma apatia gigantesca e à certeza de que ninguém o substituiria em seu coração. Ela estava certa de que nunca mais seu coração seria enorme como um dia tinha sido, preenchido por seu amor.
Não contou sobre o rompimento para ninguém, a não ser sua família. Se encheu de trabalho, blindou-se das sensações, das emoções e das tristezas. Levantou um muro em torno de si e vestiu uma armadura para se proteger.
Só que a vida não para. As demandas profissionais se acumularam, as exigências familiares continuaram, os amigos não deixaram de solicitar sua presença. Mas será que ninguém percebia que tudo o que ela queria era se fechar em um quarto escuro e ficar quietinha lá? Ninguém percebia que ela só queria curtir sua fossa sozinha?
Não, ninguém. Um dia, ela percebeu que não adiantava se aborrecer com sua família, seus amigos e colegas. Ninguém se importava porque ELA não tinha contado para ninguém. Foi ela quem vestiu uma armadura. Ela quem se isolou atrás do muro. E, se ela não estendesse as mãos e pedisse ajuda, corria o sério risco de amargar aquela infelicidade para sempre.
Assimilar essa realidade tirou um peso enorme de suas costas e abriu uma fenda em sua armadura. Doeu compartilhar suas infelicidades com familiares e amigos, mas o gosto amargo de sua boca se diluiu. Suas lágrimas voltaram a cair, mas agora já tinham ombros que as amparassem e mãos que as enxugassem.
Ela entendeu que só assim, expurgando suas dores, dividindo-as, é que poderia se abrir para um novo amor. E descobriu também que existem outras formas de amar: o cachorro, os amigos, os irmãos, os pais, a sobrinha. O coração? Ah, ele vai voltar a crescer. Vai voltar a tomar conta de seu peito e pulsar com toda a força. Vai se abrir para um novo amor - basta que ela tenha a coragem de dizer sim.
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