Find me somebody to...

Comentava há uns dias de como valorizamos o que se diz: as palavras, o discurso, a conversa. Uma pessoa calada é considerada "estranha" nos dias de hoje.

Bom mesmo é ser extrovertido.

Vivemos num blablablá incessante, incapazes de calarmos, mesmo numa situação grave, mesmo quando o ambiente pede silêncio. Fala-se no cinema. No hospital. Até no velório...! Não basta ir lá, marcar presença, oferecer consolo e fazer uma oração pelo morto. Temos que falar - isso quando não decidimos perguntar à família "Mas como foi isso? Tão jovem...". Inacreditável.

É um show de horrores. Mesmo sozinhos, não ficamos quietos. O maldito telefone com milhares de comunicadores instantâneos nos mantêm conectados o tempo todo. Não conseguimos ficar a sós com nosso pensamento. O tempo todo online. O tempo todo. 

O tempo todo.

Li no jornal uma nota sobre uma atriz que interrompeu a peça na qual é protagonista, aos berros, porque uma mulher na primeira fila não parava de consultar o telefone. Imagine aquela telinha iluminada no meio da plateia escura? A criatura não pode ficar duas horas sem olhar o celular?

O tempo todo.

Eu, como boa aquariana, boa comunicadora, falo. Muito. Mas muito, mesmo. Eu não sei me calar. E justo eu, a falante, a tagarela, reclamava há pouco que sinto falta de alguém para estar em silêncio comigo. Que não tenha medo de se calar ao meu lado. Que segure minha mão e, com esse toque, tão simples e direto, cale minha confusão. Acalme meu turbilhão de ideias.

Alguém que faça, ao invés de (só) falar. E me deixe fazer por si, em retribuição. Aliás, sem interesse algum, a não ser o afeto que lhe nutro.

Alguém que fique. Apesar da bagunça e do fluxo incessante de medos e pensamentos desconexos e dores e sentimentos. Apesar de.

Alguém que fale com os olhos. "Estou aqui. Não vou partir. Eu te entendo, conta comigo. Estou aqui."

Alguém.

Tem alguém aí?

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